terça-feira, 23 de agosto de 2016

ATLETAS MIRINS OU ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE NO ESPORTE?





Olá amigos e amigas do PORTAL PÊ.TI.PO.LÁ, 

Vou aproveitar todo o clima olímpico que invadiu nosso país, mudou as atividades e programações na TV, nas rádios, internet e redes sociais, enfim, um espetáculo de proporção global. E não é para menos, o esporte faz parte da nossa cultura, por milênios, e nada mais comum que ver, praticar e gostar de esportes. Mas, e quando o assunto é atleta infantil ou mirim? É bom, é ruim, ou não tem nenhuma influência? É só mais uma atividade na vida das crianças?

É senso comum, atualmente, entre os professores de Educação Física, que devemos primeiro auxiliar no desenvolvimento das habilidades motoras das crianças, como andar, correr, saltar etc. Habilidade é um saber fazer, um conhecimento operacional, procedimental, uma sequência de modos de agir ou operar.


Podemos dividir as habilidades da seguinte maneira:

Movimentos fundamentais na terceira infância (8 a 10 Anos):
- Estabilidade: sentar, ficar em pé, curvar, torcer e girar
- Locomoção: correr, saltar, pular
- Manipulação: lançar, pegar, chutar e rebater

Movimentos especializados
- Estabilidade: andar em superfície escorregadia, esquiar, ginástica na trave
- Locomoção e Manipulação: jogos recreativos e esportes competitivos.

Em alguns casos, pais que anseiam realizar seus sonhos esportivos através dos filhos, (tema já tratado aqui no PORTAL PÊ.TI.PO.LÁ, no artigo Escolhendo o esporte dos filhos
, escrito pelo nosso amigo Pedro Henrique) em busca de prestígio e sucesso acabam expondo suas crianças a situações de grande exigência e tensão, de treinamentos extenuantes muito cedo em busca de alta performance.


Em muitos casos o Ministério Público do Trabalho (MPT) tem atuado fiscalizando entidades, times e clubes, que fazem seleção e treinamento de crianças para formar suas bases de atletas, afim de evitar a exploração e o abuso dessas crianças.
A Lei 9.615 de 24 de março de 1998, popularmente conhecida como Lei Pelé, tem itens que visam evitar a exploração do trabalho infantil. Ainda segundo essa lei, é obrigação de uma entidade esportiva garantir assistência médica, psicológica, odontológica e educacional a um jogador.

A ação destina-se a evitar que essas crianças, na busca de realizar um sonho, sejam enganadas e se tornem presas fáceis de exploradores que se multiplicam pelo país, e exploram o talento das mesmas.
Outros deveres de um time: manter instalações esportivas adequadas, ter profissionais especializados em formação técnico-desportivas. Um jovem também não pode praticar atividades físicas por mais de 4 horas diárias, tampouco pagar para realizar um teste.
Há relatos inúmeros de exploração, maus tratos e abuso sexual dessas crianças, que em muitos casos são levadas para localidades afastadas do seio familiar. O que dificulta em muito a descoberta desses casos.
Mas, o que pode ser feito de concreto para proteger nossas crianças? Nós, profissionais de educação física, pediatras e outros profissionais da área de saúde, conseguimos ver nas atividades esportivas uma boa ferramenta para auxiliar no desenvolvimento integral da criança, porém, a especialização dos movimentos e a sua prática excessiva contribuem para a degeneração hipocinética. Uma doença caracterizada pela diminuição da capacidade funcional de vários órgãos e sistemas, que pode levar a doenças severas como artrite, diabetes, pressão alta, entre outras. Essa degeneração, em épocas anteriores, era mais comumente encontrada em adultos. Porém, com o aparecimento de competições esportivas infantis, essa doença torna-se comum entre crianças, atualmente.
Tais exageros, levam a um grande número de evasão de crianças desses esportes, diminuindo ou extinguindo as possibilidades de surgimento de um talento esportivo na vida adulta. 
O Brasil foi 13º lugar no quadro de medalhas, sua colocação poderia ser melhor se nas bases dos esportes fizessem o que muitos países desenvolvidos fazem - que é a preparação das bases motoras da criança, onde ela vivencia várias atividades esportivas dos 07 até por volta dos 11 anos e depois escolhe um esporte ao qual se dedicar pela maior parte de sua adolescência e vida adulta. Aí sim ela terá mais possibilidade de ser um atleta melhor estruturado. Uma experiência positiva acontece na Alemanha, e já é repetida em algumas escolas no Brasil, que é o Projeto Escola da Bola, onde se ensinam vários esportes às crianças e estes são mudados de período em período, para que as crianças tenham um desenvolvimento motor mais amplo possível.
Infelizmente essa ainda não é uma realidade geral. Como profissional da área de educação física, vi durante minha formação os absurdos que eram realizados na preparação dessas crianças:
- Coação por parte de treinadores, que exigiam uma maturidade psicológica e técnica de uma criança que às vezes nem tinha aprendido a ler;
- As exigências fisiológicas de corpos que ainda não tem seus sistemas amadurecidos;
- Exposição a situações de risco como lutas, nadar em piscinas profundas, quando não, realizar travessias marítimas;
- Utilização de suplementos não indicados para crianças, a fim de aumentar o rendimento esportivo;
- Burlar a legislação, colocando uma criança mais velha em competições com crianças menores, conhecidos como “GATO”.
E outros inúmeros casos que me fizeram decidir trabalhar com o aspecto educacional do esporte. E tenho buscado fazer o melhor trabalho possível na área, com o objetivo de contribuir com um melhor desenvolvimento para meus alunos.
E vocês perguntam: e como você faz para evitar esses exageros? E como nós pais, professores, responsáveis e profissionais da área infantil podemos fazer também?
BRINCAR, BRINCAR, BRINCAR
1. Dar tarefas que exijam habilidades como correr, agachar, levantar, subir escalar, arremessar, agarrar, puxar, lançar, pegar, enfim, que possam deixar a criança usar suas habilidades de forma mais natural (funcional) possível;
2. Não torne a atividade (seja ela qual for) uma obrigação;
3. Não transforme a criança num realizador dos seus sonhos que ficaram para trás, deixe ela criar os dela;
4. E finalmente, e não menos importante, preze pela formação integral de suas crianças: suas habilidades motoras, o desenvolvimento físico, o cognitivo, o afetivo e o social.

 PS.: Conselho de pai: jamais entregue suas crianças, sem antes consultar as credenciais do profissional. Por que entregar aos cuidados de qualquer um? Só por ser mais econômico? Muito cuidado com quem tomará conta da educação motora delas. 
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Abraços. Marcelo Silveira.





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